Somos apenas prompts?

O VEO do Google viralizou. O Imagen 4 impressiona. O Gemini 2.5 surpreende. Mas por trás da euforia com essas novas ferramentas de IA (que eu noticiei aqui na semana passada), uma pergunta incômoda ecoa: seremos reduzidos a prompts? E esse vídeo que viralizou, me levou a essa reflexão.
Essa questão não é apenas técnica. É profundamente humana. E a resposta pode mudar como você enxerga seu futuro profissional e criativo. Quando o Google lançou o VEO no I/O 2025, foi um salto quântico na democratização da criação audiovisual.
O VEO gera vídeos em 1080p com continuidade fluida, entende comandos complexos como “mostre um astronauta flutuando lentamente enquanto a Terra gira ao fundo, durante o pôr do sol” e é multimodal, consegue combinar texto, imagem, som e até rascunhos de vídeo.
O resultado? A barreira técnica para produzir conteúdo cinematográfico está caindo. Criadores independentes, marcas pequenas e profissionais em transição podem competir com empresas estabelecidas. Confesso que não gosto. Que acho ainda que tudo tem cara de Inteligência Artificial, mas a qualidade realmente impressiona.
Mas a verdadeira revolução não está na tecnologia. Está no que ela faz conosco. E é isso que o VEO fez esta semana: bagunçou com a cabeça das pessoas.
IA como extensão das capacidades humanas
Cada nova ferramenta como o VEO amplia a capacidade humana de execução e não substitui a criatividade. Sem o comando do humano, a arte feita por IA não existiria.
Com a Inteligência Artificial, alguém que nunca filmou pode criar um curta-metragem, um empreendedor sem equipe pode montar campanhas inteiras, um professor pode criar aulas audiovisuais de alto impacto.
O Google está oferecendo “superpoderes criativos” para pessoas comuns. E isso muda nossa relação com o que é possível. Antes, eu mesma falava “não sei desenhar, não sei editar vídeo”. Agora, eu posso dizer “se eu conseguir imaginar e descrever bem, consigo criar”. Principalmente ainda em inglês.
O prompt como espelho da alma
E aqui mora a reflexão mais profunda: o prompt é uma extensão da nossa mente. Logo, o prompt é o novo discurso de como você descreve o que quer, que palavras escolhe, o que considera “bom” ou “bonito”. O prompt mostra de maneira crua como pensamos, criamos e projetamos. Não adianta ficar falando “não somos prompts” se continuar expressando ideias e tiver objetivos medíocres.
A ansiedade da autoria
Mas por que tantos profissionais sentem euforia e medo diante dessas ferramentas? Porque estamos vivendo uma crise de identidade criativa. Se tudo pode ser feito com prompts, quem precisa de mim? Se meu trabalho vira comandar uma IA, isso ainda é criação? Sou só um prompter agora?
Essa ansiedade toca num ponto sensível: o valor simbólico da autoria. Durante séculos, fomos ensinados que criar é fazer com as mãos, dominar técnicas, suar. Agora, criar é descrever, combinar, orquestrar. Isso parece “menos nobre”, mas não é. É outro tipo de inteligência: uma inteligência narrativa e curatorial.
O crescimento pessoal está na atualização do potencial interno. O prompt, nesse contexto, é um canal de realização e não um limite. Quem sabe escrever bons prompts, sabe traduzir ideias. Quem sabe guiar a IA, sabe orquestrar complexidade. Quem domina essa nova linguagem não é “menos autor”. É apenas um novo tipo de autor.
A IA nos liberta da posição de consumidor passivo e nos coloca no papel de criador ativo de mundos, ideias, histórias.
Mas e os vieses e a ética?
Aqui chegamos ao ponto mais crítico — e que poucos estão discutindo. Os prompts não existem no vácuo. Eles são interpretados por modelos treinados em bases de dados gigantes, com padrões históricos, culturais, políticos e econômicos muitas vezes invisíveis.
Por mais que sua intenção no prompt seja autêntica, a resposta da IA sempre virá de um lugar que não é neutro. Pode estar enviesada, suavizada, manipulada, sem ética.
E aí surge a pergunta mais dolorosa: se nem a linguagem é confiável, por que insistir nela como forma de expressão? Aqui está a resposta que pode mudar tudo. O sofrimento ético que você sente ao usar IA é a prova de que você ainda está escrevendo seus próprios prompts, mesmo quando o mundo tenta ditar os comandos. E muitos seguem o efeito manada e ficam criando vídeos idiotas e repetitivos com o VEO e outras ferramentas.
Quando você sente que uma resposta de IA não te representa, é porque você sabe o que te representa. E isso já é uma forma de consciência ética. Nossa responsabilidade como criadores é questionar o modelo, confrontar o viés, recusar a resposta rasa, refinar o prompt como quem esculpe, trazer complexidade para dentro da máquina. Claro que as criações das IAs generativas, principalmente agora em vídeo, nos deixam de queixo caído. Mas é apenas a euforia do novo.
Então seremos reduzidos a prompts?
Não. Seremos tão bons quanto nossa capacidade de imaginar, estruturar e transmitir intenção. O prompt é apenas a nova “ponta do iceberg” do que carregamos por dentro de nós, como nossa bagagem cultural, nossas referências, nosso senso estético, nosso repertório simbólico, nosso desejo. A IA só responde. Quem pergunta continua sendo humano.
O verdadeiro perigo não é sermos reduzidos a prompts. É acreditarmos que o prompt é tudo o que somos. Quando, na verdade, o prompt é apenas a forma que o desejo tomou para se expressar no agora. A revolução não está na tecnologia. Está em como escolhemos nos relacionar com ela.
Eu escolhi ser menos espectadora e mais autora. Ser menos técnicas e mais criativa. Ser menos limitada e mais empoderada. A IA não veio para nos diminuir. Está aqui para nos desafiar a sermos mais humanos, mais conscientes, mais intencionais.
E você? Como está navegando essa transformação? Compartilhe nos comentários sua experiência com IA criativa.
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