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Tecnologia, saúde e solidão

maio 27th, 2018 Posted by Comportamento 0 thoughts on “Tecnologia, saúde e solidão”

As plataformas de mídias sociais que revolucionam, curam, propiciam experiências de satisfação e alívio podem criar dependência e dor, na mesma proporção. Para onde estamos caminhando, afinal, em termos de saúde, tecnologia e solidão e onde podemos chegar com tudo isso?

Fonte: Bored Panda

Um dos temas mais importantes debatidos na edição 2018 do SXSW, para além das tendências, foi justamente algo bem delicado e intrigante: a saúde mundial. E sob vários pontos de vista. A legislação em diferentes lugares do mundo, os impactos da solidão no corpo e na mente humana e, acima de tudo, uma tecnologia que pode revolucionar sistemas, prontuários e interligar diagnósticos e uma população inteira, mas que pode, simultaneamente, adoecê-las e criar dependências em diferentes graus.

Em uma série de conferências realizadas ao longo do evento, especialistas tentaram discutir (e por que não dizer, decifrar?) de que forma a tecnologia pode ser essencial nos assuntos ligados à saúde pública e privada e em que ponto exato ela deixa de ser um aliado para transformar-se num vilão.

A gente pode começar falando, entre as investigações positivas, por exemplo, na adaptação dos chamados exoesqueletos, aquelas engenhocas que podem melhorar a qualidade de vida de deficientes e propiciar uma “mobilidade além da cadeira de rodas”, permitindo que eles possam permanecer em pé e caminhar.

Isso pode garantir a estas pessoas uma melhor qualidade de vida, sem atrofia dos membros e acúmulo de lesões na pele – males que costumam atingir pessoas que passam muito tempo sentadas.

Alguns desses exoesqueletos, inclusive, poderiam ser controlados por ordem direta do cérebro. Seriam a mais genial manifestação de “wearables”, as tecnologias que podem ser agregadas ao corpo. Inclusive uma das novidades apresentadas por lá foi justamente o Harmony, um robô criado por uma equipe da Universidade do Texas que pode ajudar pacientes vítimas de lesões neurológicas causadas por AVCs.

Ao longo dos dias de evento, foram várias as discussões sobre atendimentos remotos a pacientes e a criação e adequação de prontuários eletrônicos, que podem facilitar o atendimento a um paciente, seja qual for o médico que ele consultar.

Até mesmo na medicina, a palavra de ordem do momento é “experiência”: é preciso garantir que a pessoa não apenas fique curada, mas repense sua vida de maneira saudável e, de preferência, com o auxílio da tecnologia.

A realidade virtual e a realidade aumentada também entraram em pauta, como possíveis aliadas em processos de fisioterapia e reabilitação. Outro exemplo positivo está nos investimentos feitos pelo Google neste sentido. O modelo de machine learning desenvolvido pelo gigante da tecnologia está muito próximo de ajudar a detectar câncer com um índice altíssimo de precisão.

Em debates mais “pé no chão”, maneiras concretas para que o uso dos dados armazenados pelos hospitais durante tratamentos e internações possa de fato ajudar os médicos na tomada de decisões. E, claro, uma forma de garantir a segurança dessa enorme base de informações, de forma a resguardar a segurança e a privacidade das pessoas.

Mas são debates, como sempre se vê na SXSW, de tendências e possibilidades futuras. Algumas coisas mais próximas da realidade viável, outras até parecem sonhos de uma noite de verão no Texas, mas já começam a ganhar forma e devem chegar ao público ao longo dos próximos anos. O mais curioso foi que, desta vez, a tecnologia passou a ser considerada também como uma adversária para a saúde mental.

A psicóloga Ramana Durvasula, professora na Universidade Estadual da Califórnia, em Los Angeles, e especialista em narcisismo, abordou em sua palestra, por exemplo, como essa característica humana é incentivada o tempo todo pela tecnologia, especialmente no uso das mídias sociais, e acaba por “destruir a saúde mental das pessoas”, devido à dificuldade em conviver com quem fala de si mesmo em tom elogioso o tempo todo.

Sim, você está pensando naquele amigo que tira 20 selfies de si mesmo todos os dias na academia – e em como cada uma daquelas imagens te incomoda por te obrigar a olhar para sua própria barriga em estado de crescimento.

Isso faz mal à sua saúde mental: causa irritação, frustração, inveja, sentimentos que podem virar gatilhos para crises de ansiedade ou depressão. Eventualmente, essas pessoas perfeitas nem sequer existem; há vários perfis no Instagram, a rede por excelência do narcisismo, que são falsos, chamados de “modelos digitais”, personagens que arrastam consigo dezenas de milhares de seguidores, que se inspiram na maquiagem, no vestuário e no estilo de avatares.

Você já ouviu falar de Shudu Gram?

E mesmo quem passou, desenvolveu projetos ou liderou equipes nestas grandes plataformas sociais parece ter se arrependido e faz alerta. “As redes sociais estão dilacerando a sociedade”, disse Chamath Palihapitiya, um ex-executivo do alto escalão do Facebook que se lamenta de ter participado da criação de ferramentas que promovem este modelo.

E, vejam só, ele não foi o único. Sean Parker, um dos primeiros presidentes do Facebook, afirmou que a empresa “explora uma vulnerabilidade da psicologia humana” o que acaba por definir um “ciclo de retroalimentação de validação social”.

Outro executivo da companhia, Antonio García-Martínez, diz não acreditar na plataforma quando ela fala que não influencia as pessoas em função dos dados que coleta sobre elas e escreveu um livro, Chaos Monkeys, sobre seu trabalho na empresa.

Um vício com impacto no corpo

Fonte: Bored Panda (Asaf Hanuka)

As mídias digitais viciam. Mais do que isso: são feitas para viciar. Os exoesqueletos sonhados pelos médicos de certa forma já existem e atendem pelo nome de telefone celular: um eletrônico que serve quase como um apêndice de nossos membros superiores.

Faça a experiência: vá a um restaurante comum na hora do almoço e conte quantas pessoas, sozinhas ou acompanhadas, estão mais entretidas com seus eletrônicos do que com a própria comida ou o companheiro de mesa – e não há plaquinha de “Não temos wi-fi, conversem entre si” que faça as pessoas desgrudarem os olhos da tela.

As consequências para a saúde das pessoas já estão começando a aparecer. Várias pesquisas apontam o impacto do excesso de tecnologia para a visão, com o crescimento de casos de fadiga visual, que podem levar a outras doenças. Há médicos sugerindo o uso de lentes fotossensíveis para reduzir tal impacto.

Há também relatos de ortopedistas sobre o aumento de casos de dores na coluna por causa da postura incorreta de quem fica o tempo todo de olho no celular, com a cabeça inclinada para a frente; segundo pesquisa feita por uma equipe norte-americana, inclinar-se para a frente por causa do smartphone é como usar um colar com quatro bolas de boliche penduradas – ou cerca de 27 kg.

Mas o impacto maior mesmo é para a saúde mental. A gama de aplicativos que fazem de tudo nos obriga a manter o celular sempre por perto, causando uma dependência impensável anos atrás.

Você se lembra da última vez que esqueceu de levar o carregador do aparelho para o trabalho e ficou horas sem poder consultá-lo? “Não posso ficar sem celular, é minha agenda, converso com meus filhos, monitoro meu saldo bancário”, você já está pensando enquanto lê o texto. Além disso, é ali que você consulta suas redes sociais, bate papo à toa para fugir um pouco do estresse do trabalho…

Nas escolas, o grande desafio dos professores hoje não é conseguir o silêncio nas salas de aula, mas fazer com que os estudantes foquem sua atenção para a lousa – muitas vezes, ela também eletrônica – em vez de olhar para o celular.

Estratégias para adequar o ensino à modernidade vêm sendo feitas, mas ainda encontram resistência entre os mestres mais tradicionalistas e sofrem com dificuldades de infraestrutura, especialmente em escolas públicas.

O contexto anda tão complexo que chegamos ao ponto de viver em uma era na qual surgem “estrelas” de Instagram que sequer existem, mas que conquistam legiões de fãs. Em que jovens começam a procurar cirurgia plástica para ficarem mais parecidas com as imagens que produzem de si mesmas, as famosas selfies, a partir de filtros disponibilizados pelas plataformas.

Um momento até de discussões sobre o que deve ser feito com os “restos digitais” de pessoas que morrem. Uma fase em que nós nunca estivemos tão conectados e com o sentimento de tão sozinhos.

A humanidade no centro

Fonte: Bored Panda (Angel Boligan)

Vinton Cerf, vice-presidente do Google, foi o idealizador de um projeto chamado People-Centered Internet – em tradução livre, “a internet focada nas pessoas”. No site oficial, ele se apresenta como “uma coalisão internacional criada para garantir que a internet continue a ajudar as pessoas a satisfazer suas necessidades e atingir seus objetivos online”.

Entre os benefícios desse uso estariam “o crescimento autodirigido por meio de educação, oportunidades econômicas e o crescimento de uma comunidade através dos meios de comunicação”.

Na prática, a entidade tem feito parcerias para ampliar a infraestrutura digital em comunidades pobres ou devastadas por catástrofes naturais. A ideia, garantem os criadores, é estender cada vez mais ao mundo os benefícios e vantagens da internet.

Tudo isso se parece muito com as previsões otimistas feitas por especialistas como o linguista canadense Marshall McLuhan, que lá nos anos 60 pensava no mundo como uma “aldeia global”, com distâncias cada vez mais curtas por causa das redes de comunicação (ele morreu pouco após o estabelecimento da TV por satélite).

Ou do sociólogo espanhol Manuel Castells, seu herdeiro, que sempre destacou a “cultura da internet” como algo que valorizava a colaboração e a construção coletiva de projetos. Eles só não contavam com a dependência do homem em relação à tecnologia.

É sobre essa dependência real que alguns cientistas começam a se questionar. É certo colocar toda nossa vida sob controle de um mecanismo frágil e que pode nos deixar na mão a qualquer momento, por causa de uma queda ou mesmo de um furto?

Em palestra no TED norte-americano, em abril, o cientista Jaron Lanier, um dos maiores especialistas do mundo em realidade virtual, apontou um grande dilema: a cultura gratuita que encantou a internet em seus primórdios levou à necessidade de ações para, afinal, pagar as contas.

E isso culminou no estabelecimento, aos poucos, de uma gigantesca indústria de publicidade dirigida, encarnada hoje pelos gigantes Facebook e Google, que, na visão de Laneir, “não é mais propaganda, é modificação de comportamento”.

Sabe aquela sensação de prazer quando sua selfie ganha um like do gatinho da mesa ao lado no escritório? Para ele, é mais ou menos a mesma coisa que um comportamento dirigido e treinado, como o ratinho de laboratório que ganha um pedaço de queijo depois de percorrer o caminho correto entre duas gaiolas.

O caminho a percorrer, como em tudo nessa vida, parece ser o do meio termo. Se não é possível abrir mão dos gadgets o tempo todo, por conta dos compromissos e realizações profissionais, que saibamos nos preservar alguns momentos.

Como na hora do almoço: que tal, em vez de ficar no celular, se permitir dar atenção ao cheiro da comida, ao sabor da sobremesa, aos sons dos pássaros pelo caminho e à conversa com o amigo? Não é fácil, mas não é impossível tentar.

 

A nova fronteira do prosumer tourism

janeiro 5th, 2018 Posted by Comportamento 0 thoughts on “A nova fronteira do prosumer tourism”

Estamos em época de férias agendadas. E o festival de fotos de lugares paradisíacos ou nem tanto nas redes sociais deixa todo mundo com vontade de passear. É o momento de viajar, conhecer novas culturas, lugares, pessoas.

Para escolher o que fazer e onde ir, a gente sempre vai consultar e pesquisar destinos e preços na internet. Podemos destacar muitas razões que fazem este movimento ser bastante interessante – uma oportunidade, inclusive, perdida pelas agências de turismo já estabelecidas no mercado.

A possibilidade de criar seu roteiro, de forma que atenda exatamente as suas necessidades, é o que chamamos de prosumer tourism. O consumidor constrói o serviço da forma que faz mais sentido para ele, em todas as esferas.

Prosumer tourism

Facilidade

Com um smartphone na mão ou conectividade no computador, tudo isso somado à grande adoção do uso de mídias sociais, ficou muito simples pesquisar sobre lugares, hospedagem, alimentação, passeios.

Personificação

As pessoas gostam ou preferem receber dicas de outras pessoas e não necessariamente de uma marca. Ainda que o contato seja realizado a partir e por meio de plataformas digitais, essa personificação humaniza a relação e torna o diálogo mais fluido. Como já aprendemos a lidar com a internet e estamos muito mais críticos, tendemos a desconfiar sempre das mensagens de empresas.

Experiência x coisas

Uma nova geração tem escolhido organizar as finanças para comprar menos e economizar para poder viajar. A melhor ideia de todos os tempos não?

Pesquisa realizada pela Momondo, mostra que os brasileiros vêm preferindo gastar seus recursos mais com viagens do que com roupas e equipamentos eletrônicos. O estudo aponta que 36% dos entrevistados dão prioridade a gastar com viagens, enquanto 13% afirmaram  que preferem investir o dinheiro na aquisição de um celular novo, tablet, TV ou computador, e 12% acham melhor consumir roupas, sapatos e acessórios.

E o mercado não pára de evoluir. Até mesmo neste ambiente digital há grande efervescência. Primeiro lembrávamos daquela viagem que um amigo próximo relatou e perguntávamos a ele.

Surgiram então agregadores de informações com opiniões de todo tipo – Yelp, TripAdvisor, entre diversas outras possibilidades. Na sequência ganhamos os marketplaces. Kayak, Trivago, e muitos outros que nos ajudam a encontrar as melhores opções de acordo com a necessidade – classificação, preço, localização, etc.

Chegamos ao momento dos influenciadores. Ah, mas isso não é novo. Claro que não. Os influenciadores digitais estão aí para comprovar. Já falamos, inclusive, do digital concierge por aqui. Mas, na cola deles, que conquistaram espaço e relevância em segmentos e mercados, vimos nascer, ao longo dos últimos aqueles que ajudam a definir os destinos e atividades em uma viagem.

Estamos na era do que vem sendo chamado de prosumer tourism. O termo prosumer vem da fusão das palavras em inglês professional e consumer. Identifica aquele que tem tanta experiência sobre o tema, como usuário, como comprador, que acaba gerando informações e conhecimento suficiente ao ponto de ser compartilhado com outras pessoas.

São uma espécie de especialistas que ocuparam um espaço aberto e passaram a fornecer informações apuradas, oferecer roteiros alternativos quando comparados com aqueles de agências de viagens e muito frequentados por todo e qualquer turista. Muitos blogueiros passaram a atuar nessa linha e se tornaram referência. Mas também não foi suficiente. Tem mais vindo por aí.

Curadoria com tecnologia

As mídias sociais já consolidadas e adotadas pelo grande público estão sendo utilizadas como base para a criação de alternativas. Integração de bases, inteligência de dados e algoritmos tornam o caminho entre a decisão e uma viagem cada vez mais tranquilas e simples de serem realizadas.

O aplicativo Sherpa, por exemplo, usa a popularidade a base de fotos dos usuários do Instagram para fazer uma curadoria e entregar guias que retratam os locais e opções.

Uma ideia muito relevante considerando que cada dia mais privilegiamos mídias audiovisuais. A parte boa é que ele ilustra a vista desses lugares sob o ponto de vista dos próprios turistas, com grande pluralidade de perspectivas.

Até pouco tempo, era possível encontrar diversas possibilidades como esta. O Lopeca, quer fazia o pessoal passar vontade para quem ainda não estava em férias. Permitia acessar um dispositivo no local desejado e visualizar vídeos ao vivo produzidos por quem estivesse lá.

Outra opção era o Krumb. Unificava serviço com uma pitada de game. Ele combinava várias mídias sociais e aplicativos de mapas, permitia incluir mensagens e histórias sobre os locais que só poderiam ser visualizadas quando se estivesse lá.

O problema é que boa parte deles já não existe mais. Não tiveram fôlego suficiente para se manterem na ativa ou simplesmente não encontraram modelos comerciais que justificassem novas rodadas de aportes feitos por investidores. Mas há uma outra razão que pode justificar a extinção deles.

Gente grande no jogo

Tem sido complicado lidar com a hegemonia de Google e Facebook no mundo digital. As duas companhias encontraram modelos de negócios extremamente rentáveis que garantem não só a possibilidade de investir em muitas e muitas frentes de pesquisa e desenvolvimento, mas também de comprar novas empresas e inserir novos recursos em suas plataformas.

Ao adicionar o Stories, tanto no Instagram quanto no Facebook, a mídia social garantiu uma sobrevida aos influenciadores digitais – que agora podem explorar essa funcionalidade para contar suas histórias, experiências, vivência com um toque especial de personalização para quem os acompanha.

Por outro lado, qualquer pessoa que esteja em férias, viajando – e não só um influenciador – torna-se também um prosumer tourism ao apresentar sua experiência ao vivo, em vídeo ou numa sequência de fotos.

O Google também está de olhos bem abertos para o segmento de turismo e não é de hoje. Só para termos uma ideia, veja as diversas funcionalidades já oferecidas no leque de plataformas que a companhia oferece.

Não bastasse isso, começa a colocar em xeque os marketplaces de turismo. A começar aqueles que trabalham com passagens aéreas. Faça o teste e digite, por exemplo, “passagem Salvador” no buscador. No menu aparecerá a opção voos. Clique nela e verá que ele realiza a pesquisa de local, data e valores.

Mesmo sem a personificação, Com esses competidores de peso, será preciso encontrar caminhos muito relevantes e personalizados para garantir um lugarzinho ao sol no universo do turismo. Qual será o próximo estágio?

home office, trabalho remoto, produtividade

Por que ainda discutimos home office em (quase) 2018?

novembro 20th, 2017 Posted by Comportamento, Marketing de Conteúdo, Mercado 0 thoughts on “Por que ainda discutimos home office em (quase) 2018?”

Virou quase uma benesse: as empresas – em sua necessidade de parecerem populares e antenadas – oferecem aos seus futuros funcionários, candidatos afoitos e animados com uma nova possibilidade profissional, o famigerado home office. O sorriso brilha de longe: “é uma nova política que estamos implementando”, diz o recrutador. Todos acreditam, apertam-se as mãos. Aparentemente perfeito.

Afinal, pertencer a um grupo empresarial que realmente acredita que a produtividade de um colaborador está além de sua presença física é quase um sonho para milhões de trabalhadores. E você, justamente você, pode ter esta oportunidade única de levantar sem despertador, tomar seu café com calma e, se preferir, acompanhar e-mails e planilhas na sala de sua casa, no conforto do seu lar, com os pés para cima.

Parece óbvio, certo? Nem tanto.

O home office como estratégia de contratação, retenção e gerenciamento de talentos nas empresas evoluiu, mas ainda está anos luz de ser uma realidade em todas as posições ou setores. É inegável que a adoção da medida melhora o equilíbrio entre trabalho e qualidade de vida dos funcionários. Pesquisas inclusive apontam para isso: os novos modelos de trabalho proporcionados pelas nuvens e redes mudou sensivelmente esta tendência e evidenciou a necessidade deste equilíbrio entre vida profissional e privada para manter a produtividade e, acima de tudo, a sanidade.

O estudo Global Evolving Workforce, realizado pela Intel e pela Dell em 2015, afirmou por exemplo que, entre os profissionais brasileiros que trabalham de casa, 49% sentem menos estresse, 45% dirigem menos, 33% dormem mais e 52% têm mais tempo para a família. Foram 5 mil profissionais entrevistados, em 12 países, contratados por empresas de diferentes portes. E a tecnologia de segurança, avançada, deixou de ser um questionamento com relação à integridade dos dados corporativos há muito, muito tempo.

http://convergecom.com.br/tiinside/webinside/11/02/2015/pesquisa-diz-que-trabalhar-home-office-traz-mais-produtividade/

Então, se colaboradores rendem mais, ficam mais felizes, têm mais saúde e até entregam com mais eficiência, por que, quase em 2018, ainda discutimos o assunto?

Bem, não há muitos meses, uma das maiores empresas de tecnologia do mundo, precursora no sistema home office e que, inclusive, se vangloriava bastante disso – exigiu que 40% da sua força de trabalho voltasse imediatamente ao escritório – ou rua!

Justamente ela, que anunciou aos quatro ventos recentemente que “os trabalhadores remotos (…) eram altamente envolvidos, mais propensos a considerar seus locais de trabalho como inovadores, mais felizes sobre suas perspectivas de emprego e menos estressados ​​do que seus colegas mais tradicionais e vinculados ao escritório “. Mágico, não?

Mas enquanto essa receita de sucesso era disseminada na imprensa em todo o mundo, sua CEO começou a vetar o trabalho remoto, começando pela área de vendas da empresa. A diretora de marketing da mesma companhia, por sua vez, anunciou no início de fevereiro deste ano que os funcionários da sua divisão teriam que se mudar para um dos seis locais de marketing “estratégicos” em todo o país (Austin, Nova York, Atlanta, San Francisco, Cambridge e Raleigh) ou deixar a empresa. A política, segundo matéria do Wall Street Journal, foi implementada nos últimos três meses para outras divisões da organização.

Por fim, um ultimato final: os funcionários precisariam realocar os membros de sua equipe, solicitar um emprego diferente na filial da corporação mais perto de casa ou, simplesmente, deixar a empresa. Os problemas financeiros enfrentados foi um dos impulsionadores dessa mudança brusca de postura, que pode cortar a enorme folha de pagamento da companhia, para o caso de funcionários insatisfeitos com as novas diretrizes.

Mas seria esse mesmo o caminho?

Outras culturas, outras visões

Uma outra pesquisa que encontrei, dessa vez a Gallup, nos Estados Unidos, vai na contramão do caso apresentado acima: os americanos estão, cada vez mais, trabalhando de suas casas. 43% dos americanos empregados disseram que passaram pelo menos algum tempo trabalhando remotamente, de acordo com a pesquisa de mais de 15 mil adultos – o que representa um aumento de quatro pontos percentuais desde 2012, quando uma pesquisa nos mesmos moldes foi realizada pelo instituto.

Mas nem tudo são flores, diz o Gallup: trabalhadores dos serviços comunitários e sociais, ciência, engenharia, arquitetura, educação, treinamento e bibliotecários não entram nesta conta. Já os empregados em áreas como finanças, seguros e indústrias imobiliárias são mais beneficiados, quando o assunto é trabalho remoto.

Porém, curiosamente, funcionários que passam três a quatro dias distantes do seu “site” de trabalho sentem-se mais envolvidos no trabalho.

http://convergecom.com.br/tiinside/webinside/11/02/2015/pesquisa-diz-que-trabalhar-home-office-traz-mais-produtividade/

Se aparentemente todos ganham com isso, onde ainda reside a dúvida? Talvez algumas das explicações sejam realmente estruturais: a mobilidade urbana não acompanhou nem de longe a mobilidade digital. É possível conectar-se com dezenas de pessoas ao mesmo tempo, em diferentes lugares do mundo, mas isso só será possível se, por sorte, aquela ponte não estiver completamente congestionada, o trem não tiver problema nas linhas, o ônibus conseguir circular livremente em sua faixa exclusiva – que, ao menos no Brasil, só existe em algumas localidades.

O tempo médio gasto nos percursos de casa até o trabalho aumenta consideravelmente a cada ano – média de quase uma hora nas principais capitais brasileiras. Segundo estudo relacionado da Fundação Getúlio Vargas, a duração da viagem aumenta em uma relação inversa à renda do trabalhador – e é esticada em mais seis minutos e meio a cada 10 mil novos carros que chegam às ruas. Resultado disso? Tempo e dinheiro perdidos para ambos os lados, impactos consideráveis na saúde e, claro, também no meio ambiente.

Poucos empregadores se dão conta, entretanto, reduzir custos fixos de manter uma estação de trabalho permanente e poder recrutar funcionários sem se ater a restrições geográficas são alguns dos ganhos que o home office traz para a empresa. Especialistas discutem não somente o cenário como um todo, mas os ganhos para toda a uma sociedade: redução de carros na rua, menos congestionamentos, menos tempo no trânsito, menos emissão de gases poluentes, etc.

Mas a prática mesmo é que o home office ainda é vendido como um benefício, como um vale transporte ou refeição. Uma espécie de recompensa, quando na verdade deveria ser analisado como um fator determinante de negócios, um futuro caminho para as relações profissionais. A regra, na maior parte das corporações, ainda é associar a proatividade, a participação e a eficiência na entrega apenas com a presença física na sede.

Outro estudo, realizado nos Estados Unidos com mais de mil profissionais de diferentes setores da indústria, comércio, e com empresas de diferentes portes, mostrou números bastante curiosos sobre o tema.

De acordo com a Owllabs, empresa norte-americana de videoconferência, 52% dos trabalhadores locais trabalham em casa ao menos uma vez por semana. As áreas de vendas contratam cerca de 66% de trabalhadores remotos a mais – muitos deles também contratados remotamente. Empresas pequenas têm duas vezes mais chances de contratar trabalhadores remotos. E, dos dados mais interessantes: os remotos podem contribuir até mais do que as suas gerências, mesmo estando longe do escritório.

A pesquisa também derruba uma das grandes lendas argumentativas de quem ainda defende o trabalho presencial: trabalhar remotamente não afeta negativamente o investimento dos funcionários em seus trabalhos, nem mesmo esvai o conhecimento sobre a cultura da companhia.

Por outro lado, existem outros desafios intangíveis que os trabalhadores enfrentam.

https://www.owllabs.com/state-of-remote-work 

Mesmo assim, boa parte dos colaboradores gostaria de experimentar este método de trabalhar.

https://www.owllabs.com/state-of-remote-work

Novos tempos, novas leis

A regulamentação da prática do trabalho remoto na nova Lei Trabalhista brasileira talvez possa mudar um pouco dessa história por aqui. Segundo ela, tudo o que o trabalhador usar em casa será formalizado com o patrão via contrato – e isso corresponde a equipamentos, energia, internet. E o controle do trabalho executado será realizado por tarefa, e não por horário, como se costuma contabilizar ainda hoje.

A única lei que tratava do assunto até então datava de 2011, sancionada pela então presidente Dilma Rousseff. E embora previsse mesmos direitos de CLT, não se aprofundava nos detalhes de execução e nem a distinção entre o trabalho realizado no escritório físico ou à distância – inclusive no controle da jornada. A nova lei também define, entre outros detalhes, que mesmo o comparecimento às dependências do empregador para a realização de atividades especificas não descaracteriza o home office. E a base definida será mesmo feita por meio de um acordo entre as partes.

Ainda poderão ser definidas no contrato as atividades que serão realizadas pelo empregado, além das condições para aquisição, uso, manutenção ou fornecimento dos equipamentos e infraestrutura para a prestação do trabalho remoto, bem como para o reembolso das despesas arcadas pelo empregado. O empregador também deverá instruir os empregados sobre regras de saúde, ergonomia e de segurança do trabalho, que devem ser acatadas pelos funcionários.

O home office não é benefício, não é moleza, não é tranquilidade. Mas é, certamente, o melhor lugar para se trabalhar quando se tem organização, disciplina e foco. E empresas precisam acreditar que só têm vantagens quando proporcionam esta possibilidade aos seus colaboradores. Trabalho, essencialmente, é o que entregamos, aquilo que fazemos virar, acontecer. E não o local fixo geográfico para onde nos dirigimos – e cujo tempo de deslocamento já poderia ter proporcionado, ao menos, um deadline cumprido.

empreendedorismo

Empreendedorismo e propósito!

novembro 13th, 2017 Posted by Comportamento 0 thoughts on “Empreendedorismo e propósito!”

O propósito está para o empreendedorismo assim como o foco nas pessoas está para o marketing e a comunicação.

Essa foi uma das constatações que fiz após participar do FESTEMP – Festival de Empreendedorismo da FIESP, organizado pelo CJE – Comitê de Jovens Empreendedores.

Se por um lado eu acumulo quase 18 anos na vida empreendedora (formal) e outros tantos como agência, por outro gosto sempre de me atualizar e estar próximo dos empreendedores pois eles são potenciais clientes e posso aprender, estando mais perto, quais são as suas demandas.

Empreendedorismo – oportunidades e desafios

Empreender pode ser algo que fazemos sem perceber. Costumo contar que eu já empreendia aos 10 anos, arrumando gavetas e armários da minha irmã em troca de umas moedas para comprar bonecas de papel. E eu nem sabia que isso era empreender.

A oportunidade de ser a dona do meu próprio negócio veio num momento em que eu estava estável num emprego do qual eu gostava, fazendo minha pós-graduação e pelas mãos de um amigo de infância.

Hoje vejo que foi um salto de pára-quedas sem dispositivo reserva e que, obviamente, se tornou uma viagem sem volta. E mais, me fez ampliar o leque de ideias e projetos para dividir com outras pessoas e empreender.

empreendedorismo

Lá no FESTEMP conheci as histórias de três jovens empreendedores que são considerados expoentes pois alcançaram o sucesso antes dos 30 – sucesso esse relativizado e contextualizado por todos, mostrando que tudo é uma questão de foco, oportunidade e, claro, um pouco de sorte.

Camila Achutti falou dos esteriótipos, de gênero e das dificuldades em sair da zona de conforto. Daniel Arcoverde falou do quanto é importante reconhecer na adversidade uma boa oportunidade e, se for preciso, readequar seu produto/serviço para isso.

E, para finalizar, Roger Koeppl contou sobre as voltas que precisou dar até chegar onde queria e entender o que gostava de fazer.

Os três falaram de propósito e do quanto isso é vital para o empreendedor ser feliz no dia-a-dia da empresa.

Comunicação e foco no usuário nas pessoas

Assisti ainda a fala dos Top Voicers do Linkedin – painel apresentado pela Carla Falcão do Social Mom, onde mesclaram conhecimento prático e suas jornadas sendo empreendedores de suas próprias marcas. Marcas que se formam pelas suas opiniões e textos na plataforma.

Carla Falcão apresentando o painel

Falaram também do propósito, de fazer o que se ama e gosta, além, claro, de ouvir e entender os leitores/seguidores para produzir mais conteúdos com os temas mais populares em seus perfis.

Para finalizar, Sérgio Gordilho da agência África, trouxe emoção e comunicação para o teatro.

Além de nos mostrar filmes publicitários incríveis, falou das grandes mudanças da comunicação nos últimos anos e o quando estar atento ao consumidor é importante. Aliás, não é usuário, como o pessoal de UX gosta de dizer, são PESSOAS.

E a mensagem final: Seja relevante (para o seu consumidor) ou morra!

empreendedorismo

Para mim, um evento como esse traz aquele gás e a certeza de que empreender foi o melhor caminho. Além disso, estar perto de empreendedores faz a cabeça fervilhar. E o networking é incrível.

A suspensão da vida adulta

agosto 31st, 2017 Posted by Comportamento 0 thoughts on “A suspensão da vida adulta”

Há muita discussão sobre os choques de gerações, sobre a “nova” vida adulta. Talvez porque o acesso à tecnologia esteja transformando tudo muito rápido. Inclusive o comportamento das pessoas. As mudanças provocadas pela quarta revolução industrial preocupa os jovens. E isso provoca, atualmente, novos conflitos.

De certa forma, olhar para o futuro parece sombrio. As capacidades produtivas transformadas em atividades de computadores e máquinas, baixos salários e as incertezas do que vem pela frente faz com que a temida “crise da meia idade” seja antecipada. A geração conhecida como Millennials vem tentando prolongar a juventude. O fenômeno vem sendo chamado de suspended adulthood.

Apenas para termos uma ideia de como os jovens estão insatisfeitos com o modelo atual, a Young Women’s Trust encomendou uma pesquisa ao Populus Data Solutions. O estudo descobriu que, na Grã-Bretanha, 42% dos jovens descrevem-se como desgastados, 47% sem autoconfiança e 51% preocupados com o futuro. Fonte

A situação se agrava quando olhamos especificamente para o público feminino. O percentual de mulheres que relataram falta de autoconfiança foi de 54%, enquanto o de homens jovens chega a 39%. Soma-se a isso a questão do envelhecimento geral da população, que também desconfigura o cenário que encontramos no mercado hoje.

São números muito altos. Principalmente se encararmos que a faixa etária que diz isso – jovens de 18 a 30 anos – estão em um momento que, em teoria, é o mais pleno da vida. Aquele em que se decide aventurar, conhecer pessoas, construir uma carreira. Enfim, é um período turbulento, mas ávido. O que torna o resultado do levantamento ainda mais assustador.

Consolidação do perfil

Ah, ok. Mas o que isso tem a ver com o marketing da minha empresa? Primeiro porque hoje precisamos entender muito mais de comportamento humano – e não só de tecnologia. Não podemos nos esquecer de que o digital e suas plataformas são meios. Segundo porque essa fase da vida é a que vai formar o perfil do consumidor.

Quando muito jovem, o indivíduo dificilmente tem poder de compra. Mas é nesse período que ele vai  estabelecer o estilo de vida que vai ter. É o momento de definir princípios que vão conduzir a vida – e também os hábitos de consumo. Isso é uma regra para todos? Não. Mas há uma certa padronização pelos modelos atuais de vida social.

As diferenças de comportamentos dos jovens da atualidade – especialmente quando comparadas com o ditos Baby Boomers (nascidos entre 1946 e 1964) estão postas. É o que aponta o consolidado de estudos conduzidos pela Nielsen entre 2013 e 2016.

vida adulta

Alguns estudos demonstram que as novas gerações de Millennials e Next (ou como alguns preferem chamar de geração Z) vão ultrapassar, já em 2025, a população de baby boomers em mercados maduros, como o dos Estados Unidos.

Pode não parecer muita coisa. Mas a mudança de uma geração para a outra provoca alterações significativas na forma de pensar a vida. E isso certamente vai transformar completamente a forma de expor uma marca e criar relacionamento.

Nova direção

A confiança e vivacidade de quem está entre 18 e 30 anos estão se perdendo ao longo da história. Enfrentar os desafios da modernidade (ou pós-modernidade) não parece algo simples ou fácil. Nunca foi, mas os recursos e a forma como tudo anda acelerado parecem gerar mais pânico e indecisão em uma fase da vida tão crítica.

Foi-se o tempo de sair rapidamente da casa dos pais, tocar a própria vida. Mas tudo parece muito confuso. Ao passo em que prorrogam o fato de encarar a vida adulta sozinhos, também buscam aproveitar o momento, o agora e, em muitos casos, até de forma bastante juvenil. Acampamentos de verão são um exemplo disso.

É estranho dizer, mas eles estão mais conectados e parecem menos sociáveis. Mas ao mesmo tempo vivem uma vida extremamente sociável nos meios digitais. A experiência física recebe novos significados. Facilidade, comodidade, mas também simplicidade passam a fazer parte da rotina.

Há outra mudança cultural também em curso. O minimalismo – tema de um documentário com pessoas que vivem com o menor número de coisas possíveis – também vem ganhando corpo ao longo dos últimos anos. É quase que um combate ao consumismo desenfreado a que somos impostos hoje em dia.

Enfim, consegui te convencer de que é mais do que necessário acompanhar este movimento todo entre as gerações?

Histórias efêmeras e a cultura da timeline

agosto 24th, 2017 Posted by Comportamento 1 thought on “Histórias efêmeras e a cultura da timeline”

Pego o smartphone. Clico no aplicativo. Inicio um vídeo. Mais um clique, e está no ar mais uma história. Se existe uma coisa que o mundo digital impulsionou, foi a criação de histórias efêmeras. Tudo simples de se fazer. Muito rápido e prático. Alguns segundos de vídeo ou imagem… Uma tela com um texto.

Foi. Acabou. Próximo. Conteúdo consumido, e começo a produção de algo novo. O contexto é esse hoje. Somos, no fim do dia, todos mídia e produtores de conteúdo. A facilidade de se registrar qualquer fato a partir de um dispositivo que passa a maior parte do tempo conosco proporciona essa transmissão da vida. O lifetelling, as histórias efêmeras e a cultura da timeline.

Tudo pode ser clicado, gravado e, principalmente, compartilhado. Não basta estar. É preciso mostrar que se está. E como as plataformas sociais colaboram demais para que isso aconteça, foi criada a cultura da linha do tempo. Um dedo escorrega pela tela, e lá se vai mais uma foto, um tweet, um vídeo, uma história.

Segundo um dos maiores filósofos contemporâneos, o polonês Zygmunt Bauman (1925-2017), “tempo e espaço são reduzidos a fragmentos”, o mundo líquido, como ele dizia. Assim, surgem novos palcos públicos para a exposição individual.

De forma geral, a própria essência das mídias sociais tem essa característica de transitório, de momentâneo. Mexeram com a configuração das crises de imagem e reputação das marcas. Foram além. Imprimiram uma velocidade que é até difícil de acompanhar. Impulsionaram a fragmentação e a não linearidade (olha o mundo líquido aí de novo).

As pessoas vêm adotando essa forma não só para produzir, mas para consumir esse volume gigantesco de dados a que elas têm acesso. Dois terços (66%) dos usuários do Facebook obtêm novidades por meio da plataforma, quase seis em dez (59%) usuários do Twitter recebem novidades pela mídia. O Google chama isso de micromomentos e tem até um enorme guia sobre o tema, que é constantemente atualizado.

A efemeridade do conteúdo corporativo

Desde que termos e estratégias de narrativa, do branded content, do storytelling tornaram-se mantras a serem seguidos pelo marketing e comunicação das companhias, manter um fio condutor para envolver as audiências dentro destes micromomentos ou do mundo líquido tornou-se um grande desafio. O que já era difícil ficou ainda mais complexo.

Primeiro, o fato de essas mídias contarem com um volume astronômico de audiência também pode ser encarado como um desafio. Afinal, as companhias precisam investir conteúdos em plataformas sobre as quais elas não possuem o menor controle.

Na sequência, veio a torneira fechada. O Facebook quase encerrou o alcance orgânico das páginas corporativas para pressionar as marcas a ampliarem seus investimentos em publicidade na plataforma.

cultura da timeline

Agora, a mudança é também tão desafiadora como as anteriores. É a vez do conteúdo com prazo de validade, perecível.

Não há informações oficiais das próprias plataformas, nem mesmo há regras e receitas que determinem a vida útil de um post nas mídias sociais. Existem memes, por exemplo, que parecem ressuscitar de tempos em tempos.

Estima-se, porém, segundo levantamento feito pela Wisemetrics, uma empresa especializada em métricas, que a vida de um post no Facebook, por exemplo, dura, no máximo, 12 horas. O estudo aponta também que as cinco primeiras horas são as de maior impacto, já que 75% das interações com o conteúdo acontecem nesse período.

A produção do perecível

Histórias longas, desenvolvidas por marcas dos mais variados gêneros, em ambientes que exigem atenção e interatividade do usuário, perderam força e espaço, ainda que tivessem uma bela produção e um roteiro muito bem estruturado.

Ao mesmo tempo em que ficou quase impossível não deixar pegadas digitais, há um agravante: o poder dos mecanismos de busca permite encontrar muita coisa. Mas uma aplicação como o Snapchat, seguido pelo Instagram e WhatsApp, grande incentivadora do modelo de consumo rápido, não permite criar nenhum histórico desse tipo de conteúdo divulgado. Em 24 horas, o conteúdo simplesmente desaparece.

Como, então, criar uma história que permita envolver e engajar os públicos, quando não há possibilidade de busca? Quando não se consegue enxergar o que já passou? Quando essa informação vai desaparecer rapidamente? A ideia parece maluca, mas é preciso aprender a ser efêmero para se tornar perene neste momento.

É preciso encontrar novas formas de produzir e entregar informação para os públicos de interesse, como fez o Game of Thrones dentro do Snapchat _a marca entregou filtros para a audiência brincar com eles e não criou um comercial padrão para a estreia da nova temporada. O tempo real, os bastidores, os personagens tornam-se fundamentais e muito relevantes para a estratégia de conteúdo.

É um desafio quebrar a burocracia presente no mundo corporativo para trazer o senso de urgência e inovação à linha de frente da comunicação e do marketing. Mas não há mais como escapar. E isso também exigirá uma eficiência na construção de times de especialistas e na infraestrutura disponível.

Cabe às marcas e empresas entender essa dinâmica, ousarem, realizarem diversos testes para conseguirem extrair o melhor que podem.

Teoria das cores no marketing

agosto 16th, 2017 Posted by Comportamento 0 thoughts on “Teoria das cores no marketing”

Nem todo mundo se dá conta, mas a influência das cores (sim, das cores!) em seus negócios é praticamente vital. Especialmente na área de tecnologia da informação, elas praticamente determinam fatores de risco e sucesso que vão muito, mas muito além apenas de uma identidade visual marcante.

Usar a teoria das cores no marketing já deixou há muito de ser uma mera questão de design: solidifica a imagem, transmite significados. Mais do que isso: aplicar a cor certa no projeto certo pode ajudar a estabelecer a sua eficiência. Acredite!

Existem mesmo questões psicológicas relacionadas às escolhas empresariais neste sentido, visto que cores afetam emoções, aguçam os sentidos de quem as percebem e, principalmente, definem muitas escolhas.

Tintas para parede, vestuários, decoração, embalagens. E saber usá-las de maneira correta, interpretar essas interferências e ascendências é fundamental para transmitir o que se quer, estimular as opções e, acima de tudo, definir a decisão de compra, seja qual for a esfera de consumidor/cliente.

A cor é tão, mas tão importante que diferentes setores fazem estudos que mostram o quanto elas influenciam quem compra e de que forma elas transformam o tempo e as tendências. No mercado automotivo, por exemplo, a crise econômica tem transformado em monocromática a frota mais recente saída das concessionárias. Sem custos adicionais, automóveis pretos, pratas e brancos podem ser uma opção mais econômica.

Isso sem contar que os amarelos, por exemplo – hoje em dia, em baixa no gosto dos motoristas – pode custar até R$ 3 mil a menos, dependendo do modelo. Segundo estudo da PPG, que produz tintas automotivas, branco, preto, prata e cinza são os preferidos do consumidor sul-americano, com 87% da frota.

As experiências sensoriais também estão nos supermercados, embora a gente não perceba. O “vermelho coca-cola” é quase irresistível e se destaca ao lado de outras latas e rótulos. Verduras e legumes organizados por cores também aguçam a curiosidade (e a vontade) dos consumidores. Mas você sabe por que isso acontece?

Teoria das cores no marketing

Os especialistas dizem que é importante conhecer a reação que cada cor provoca no cérebro. Mas não é só isso: é necessário também saber qual é o melhor momento e o local de utilizá-la. O vermelho, por exemplo, pode ser utilizado nas placas que sinalizam ofertas dentro do supermercado. Já o azul é uma cor conhecida por transmitir calma, segurança e confiança.

O marrom, dizem, é perfeito para decorar os espaços de descanso ou de cafezinho: a cor passa sensação de relaxamento e de alívio de stress. O amarelo, por fim, é uma cor quente, mas transmite acolhimento e otimismo. Todo mundo sabe que o fast-food Mc Donald’s não se utiliza de duas destas cores citadas acima à toa, afinal.

Mais do que transmitir boas sensações, as cores hoje são fundamentais nos processos de marketing das grandes marcas e serviços.

As cores e o marketing

Fonte: neilpatel.com

Fato é que: as cores da sua marca dizem absolutamente tudo sobre o seu negócio. A cor é o elemento que provoca as primeiras reações no contato com um produto – mais de 80% do público é afetado por elas. Mais do que isso: 90% da aceitação de um produto, projeto, rótulo ou marca depende de sua identidade visual, de forma mais imediata. O gráfico acima explica bem o que quero dizer sobre isso.

Mas a grande dúvida de sempre é: como escolher? No que podemos nos basear para não cometer equívocos? O cliente deixará de utilizar meus serviços se não houver identificação com a tonalidade escolhida? Como optar pela a cor mais adequada na hora de criar/produzir/aprovar uma logomarca, uma imagem, um e-mail marketing ou até mesmo um site?

O Marketing Lab, laboratório de marketing digital português, nos dá uma ajudinha:

As cores e o marketing

Essas sensações transmitidas não são gratuitas, naturalmente: estão intimamente ligadas ao que chamamos de psicologia das cores. Ela é capaz de explicar, de uma maneira mais completa, porque o cérebro é capaz de reagir ao amarelo ouro com idéias e ao verde com dinheiro, por exemplo.

O estudo psicológico das cores contribui para que possamos interpretar como os tons afetam e despertam emoções e aguçam sentidos de quem as percebe. E sabemos que, no marketing, todo conteúdo implícito pode contribuir para a total empatia do consumidor pela marca ou também o seu total desprezo.

De acordo com Claudia Feitosa, Pós-doutora em neurociências integradas pela University of Chicago e professora da Casa do Saber, “cor é uma construção mental. Ela existe apenas dentro dos cérebros, não no mundo físico”. A cor é geralmente pensada como uma qualidade da luz ou de um objeto, mas ela nem está em si mesma em nenhum lugar. Segundo a especialista, trata-se de um fenômeno perceptivo determinado por processos neuronais.

“A experiência de uma cor é como a compreensão da linguagem; não há sentido numa frase em japonês se a pessoa não aprendeu a língua, assim como não há cor na luz ou num objeto”.

Este vídeo, aliás, mostra com bastante clareza as diferenciações desta nossa “paleta mental”:

COLOR PSYCHOLOGY from Lilly Mtz-Seara on Vimeo.

Esta teoria talvez seja capaz de comprovar os motivos daquele “meme do vestido” fazer tanto sucesso, por tanto tempo. Lembra?

Seja qual for a mensagem que você queira transmitir, importante mesmo é saber que as cores e padronizações visuais têm um impacto decisivo naquilo que chamamos de taxas de conversão. Elas têm um valor muito maior do que simplesmente estético. E embora estejam sempre ao nosso redor, não nos damos conta, muitas vezes, do quanto isso nos afeta no dia a dia.

As cores e as sensações

O mesmo acontece com nossos consumidores e clientes. Certas tonalidades nos transmitem, mesmo que de forma inconsciente, culturas, emoções e até conotações sociais. São influências e sentimentos que perpassam nossas escolhas, decisões, nosso desejo de voltar a consumir e, consequentemente, podem ser um aliado fortíssimo a caminho da fidelização – pensando pelo lado das empresas e corporações. Até mesmo a simpatia pela marca podem ser determinadas, também, pelas paletas.

teoria das cores no marketing

E por falar em marcas, o site de tendências Fast Company já aborda esse assunto há, pelo menos, três anos. Em gráficos bastante simplificados, é possível entender melhor tudo o que falamos aqui:

Vermelho: paixão, energia, amor, perigo, poder.

Teoria das cores no marketing

Amarelo: Otimismo, esperança, sensação de rejuvenescimento.

Teoria das cores no marketing

Azul: segurança, ordem, confiança.

Laranja: Energia, equilíbrio e calor.

Teoria das cores no marketing

Verde: Natureza, saúde, sorte.

Teoria das cores no marketing

Roxo: Espiritualidade, mistério, realeza.

Teoria das cores no marketing

Fonte

Vale a ressalva do background de quem está recebendo a mensagem visual/colorida além, claro, de que existem diferenças culturais que precisam ser consideradas. Tendo isso em vista, use e abuse das cores!

fita métrica

Digital dá voz e vez ao plus size

agosto 14th, 2017 Posted by Comportamento, Todas as categorias 2 thoughts on “Digital dá voz e vez ao plus size”

Tatiane, 37, jornalista, sempre teve uma relação complicada com o próprio corpo. E isso, naturalmente, refletiu de forma negativa em diferentes momentos de sua vida: na escola, com as amiguinhas que a olhavam assustadas com as diferenças; ou no colégio, quando esperava ser paquerada pelos colegas. O primeiro namoro veio só aos 23 anos.

Amanda, 26, estudante de psicologia, conta que teve suas fases “cheinhas” na infância, mas nada que chamasse muito a atenção alheia. Aos 11 anos, as coisas desandaram, segundo ela mesma: em questão de dois anos, chegou a pesar 75 kg e as amigas da mãe já davam “alertas”, na frente dela, sobre como cuidar de seu peso – é uma de suas lembranças mais nítidas. As roupas legais de adolescente nunca serviam. A frustração ganhou seu ponto alto num passeio escolar, quando toda a turma foi passar debaixo de uma árvore e ela não conseguiu, por conta do tamanho.

Ao começar a conversar com a Karol, 35, analista judiciária, ela já manda de cara seu cartão de visitas. “Peso 133 kg e sempre fui fora do padrão”, diz. Ela nasceu com mais de 5 quilos e, por isso, sua luta contra o excesso de peso vem desde o nascimento. Conta que, sozinha, até passava despercebida, mas em grupo, sempre destoou das demais crianças da mesma idade. Sua batalha sempre foi muito difícil e os resultados desastrosos. O chamado efeito sanfona a obrigava a vestir roupas de adulto ainda criança. E adolescente, por fim, não encontrava mais peças que coubessem.

Todas essas histórias reais que você leu acima foram colhidas de forma totalmente espontânea, mas são interligadas por um elemento-foco: a internet. Foi por meio dela que nos conhecemos, conversamos, trocamos ideias e histórias. E foi essa mesma internet que transformou a vida dessas e de milhares mulheres fora do padrão.

Conexão com a autoestima

Cansada do engorda e emagrece, sempre com o engorda em dose dupla, Tatiane passou a entrar em contato com outras mulheres obesas pelas redes sociais. E isso teve uma participação decisiva no resgate da autoestima –mesmo que momentâneo e circunstancial. “Encontrar outras gordas que fossem felizes com seu corpo foi o estímulo de que eu precisava para me aceitar mais, e tratar meu corpo e a mim mesma com um pouco mais de amor. Frequentar bazares e eventos direcionados foi outra inspiração – afinal de contas, onde mais eu veria tanta gorda sorrindo ao mesmo tempo? E até hoje, saio renovada só de encontrar e ouvir as pessoas”.

Apoio nas redes sociais

Foi aos 13 anos que Amanda iniciou sua jornada entre nutricionistas, médicos e psicólogos. Sua primeira dieta, ela lembra, não foi restritiva – focava em aprender a comer melhor e caminhar sempre que possível. Foram 17 quilos eliminados e uma sensação de vitória. Mas a família mudou-se para o interior do estado de Pernambuco e a rotina mudou completamente. Os médicos mudaram, ela descobriu uma tireoidite de Hashimoto e passou a tomar hormônios fortíssimos – nunca mais conseguiu emagrecer e manter-se no peso, desde então.

“A maior parte da minha vida foi sempre oscilando, triste, passando por aqueles momentos de “amigas” dizendo que, se a pessoa é gorda, não tem razão pra comer coisas “não saudáveis”. Vergonha de festas e piscinas, praias, sempre uma dificuldade de achar roupas legais no tamanho e sempre os “meio” elogios, como “você tem um rosto tão bonito, ia ficar gata se emagrecesse” ou “tu é tão bonitinha de rosto, só falta emagrecer” – inclusive da minha mãe. Nunca tive alta autoestima, e essas coisas também em nada me ajudaram”.

Amanda considera uma ironia ter chegado ao estágio plus size saudável e com um bom condicionamento físico. Diz que era sempre espantoso apresentar seus exames para outras dezenas de endocrinologistas e nutricionistas que frequentou nos últimos anos. Depois de sucessivos fracassos, como ela mesma considera, resolveu consultar a internet para descobrir se esse era um problema exclusivo dela.

“Com mais ou menos 15 anos, passei a ler textos feministas, porque achava muita coisa injusta. Um dos blogs que me ajudou muito foi a Lola (já pensei até em escrever pra ela e contar sobre alguns casos de gordofobia que passei na vida), que tinha muito material sobre aceitação. Também sempre tive um gostinho por biologia, então vivia pesquisando como funciona meu corpo, o que também ajudou muito a não aceitar muitas coisas impostas ou muitas críticas infundadas por aqueles que só olham o peso e já vão dizendo besteira. Nas redes sociais, encontrava discursos do tipo ‘você tem que se amar como é’, ‘teu peso não representa sempre tua saúde’, ‘pessoas são diferentes’, ‘organismos funcionam diferentes’. São muitos blogs legais, e sempre tem alguém disposta a expor essas questões”.

Amanda adotou uma política: em sua rotina virtual, evita pessoas preconceituosas e perfis do estilo “vida fit 100%”. Segundo ela, é possível contar nos dedos os que realmente prezam pela saúde física e mental sem ligar pra massa gorda. Ler estas blogueiras, a história de vida dessas pessoas como questão social me ajudou muito porque, até a adolescência, eu era 100% a menina que aceitava todos os xingamentos e acreditava na visão dos outros – ainda tenho isso, mas diminuiu demais e foi uma salvação pra mim”.

A força do ambiente digital

plus size

“O ambiente digital ampliou o acesso a coisas que antes não tínhamos alcance, nem no melhor cenário de otimismo”. Karol sempre se sentia mais confiante a cada vez que perdia um pouco de peso; era inevitável. No entanto, depois de 34 anos, meses e meses em spas, duas cirurgias, dezenas de dietas e muitas sessões de terapia, ela finalmente descobriu que seu peso não era determinante em sua felicidade.

Longe de ser uma ativista, Karol encontrou seus próprios mecanismos de defesa para evitar aborrecimentos com o assunto: ignora solenemente tudo o que diz respeito. “Não vou negar que existem situações nas quais percebo olhares, sorrisos, piadas, e isso me magoa profundamente, mas só naquele momento. Depois, eu passo por cima. Eu não consigo acreditar na ideia de que tenho que me impor, de que tenho que ser aceita. Porque simplesmente não tenho. Sou igual às outras pessoas e ajo como tal. Creio que agir com naturalidade faz com que o meio acabe se adaptando. Sei que o preconceito existe, mas acredito que as minhas atitudes fazem com que o meio acabe percebendo que sou igual, sem que eu precise forçar nada”, relata.

Dados que impressionam

Tatiane, Amanda e Karol são apenas testemunhas dos números do setor de plus size, que não as deixam mentir. De longe, é um dos setores que mais cresce no comércio eletrônico brasileiro, mesmo com todas as crises e maus momentos econômicos. De acordo com o relatório E-bit Webshoppers, publicado em 2015, a divisão de moda e acessórios cresceu 17%, em 2014, movimentando cerca de R$ 150 bilhões. Dentro desse crescimento, 62% dos pedidos foram femininos.

Ainda segundo o mesmo relatório, um dos responsáveis por esses números são os e-commerces de moda plus size, que hoje movimentam aproximadamente R$ 4 bilhões ao ano, com um crescimento médio anual de 6%. A Associação Brasileira do Vestuário (Abravest), por exemplo, afirma que as centenas de lojas virtuais especializadas no segmento são responsáveis por uma média de 5% do faturamento total de moda no país. Não dá pra desconsiderar! Em 2012, já se estimava que o setor crescesse cerca de 10% ao ano só no Brasil. E já havia mais de 200 lojas especializadas. Hoje, são mais de 300, segundo a Abravest, sendo 60 delas virtuais.

O pessoal do Repórter Unesp chegou a preparar um especial sobre o tema e a selecionar algumas das marcas que trabalham com este universo.

Se o mercado evolui, a razão é óbvia: a demanda. Segundo o relatório “Panorama da Segurança Alimentar e Nutricional na América Latina e Caribe”, da Organização das Nações Unidas, divulgado em janeiro de 2017, mais da metade da população brasileira está com sobrepeso e a obesidade já atinge 20% das pessoas adultas no país.

O sobrepeso em adultos no Brasil passou de 51,1%, em 2010, para 54,1%, em 2014. A tendência de aumento também foi registrada na avaliação nacional da obesidade. Em 2010, 17,8% da população eram obesas; em 2014, o índice chegou aos 20%, sendo a maior incidência entre as mulheres, com 22,7%. Outro dado do relatório é o aumento do sobrepeso infantil. Estima-se que 7,3% das crianças menores de cinco anos estão acima do peso, sendo as meninas as mais afetadas, com 7,7%.

Porém, além dos números da ONU, é impossível ignorar que o setor também ganhou notoriedade e visibilidade pelo meio digital: blogs de moda e comportamento que pregam a aceitação de todos os padrões e biótipos; o fim da obrigação dos padrões preestabelecidos socialmente; e, claro, a autoestima dessas consumidoras, que se ajudam e se completam num nicho diferenciado e muito especial.

A voz nos canais digitais

As blogueiras plus size também são parte importante dessa mudança de comportamento. Cansadas da falta de representatividade em muitos setores, elas “aumentaram o tom” (e o número de cliques). E a identificação foi imediata, especialmente entre o público feminino.

Ju Romano é uma delas. São mais de 62 mil inscrições em seu canal no YouTube, 172 mil seguidores no Instagram e mais de 4 mil no Twitter. E ainda leva em seu currículo um anúncio de energético que deu o que falar ao lado de outro ícone do plus size brasileiro, Flavia Durante – empresária e jornalista, criadora do primeiro bazar especializado em plus size no país e responsável por grande influência digital sobre o tema.

Como já dizia Philip Kotler, Flavia atentou a um mercado cujas necessidades não estavam sendo bem atendidas há anos. Ou eram roupas “de velha”, ou caretas demais ou muito caras. A autoaceitação é o maior tempero para o segmento e se vier bem vestida e adequada, muito melhor.

Sentir ou reconhecer de forma objetiva suas próprias capacidades e realizações – e também das próprias limitações, que se diga – é o segredo para inflar esse mercado específico e, porque não dizer, o meio pelos quais essas informações (e formações) circulam e se propagam. A ausência de autoestima é frequentemente vista, nas discussões psicológicas, como uma característica importante de um distúrbio emocional.

Este movimento é bastante importante sob o ponto de vista da identificação de grupo. As redes, em seu formato e constituição, são hoje o veículo mais poderoso no sentido de divulgar, de projetar conceitos, ideias, percepções.

Em 1992, as psicólogas sociais dos Estados Unidos Riia Luhtanen e Jennifer Crocker desenvolveram até uma medição para o que se classifica de autoestima coletiva – a Collective Self-Esteem Scale (CSES), na qual os respondentes avaliam seu pertencimento grupal geral em quatro subescalas referentes à estima do pertencimento: as avaliações do seu valor como membro do grupo; do valor do grupo; das percepções alheias em relação ao grupo; e, por fim, a importância do grupo para a sua identidade.

Ainda é cedo para mensurar a estima deste pertencimento. O mercado ainda é jovem e desponta – as primeiras notícias em veículos brasileiros sobre o movimento plus size datam de 2012, aproximadamente. Entretanto, essas iniciativas e esse sentimento multiplicado, retuitado, favoritado de ser aceito e aprovado por um grupo ou pela sociedade como um todo são, certamente, os fatores mais louváveis das iniciativas dessas mulheres.

O plus size e o mercado

Mas se a estratégia e o engajamento já funcionam entre as consumidoras, os empresários ainda precisam de atualização e de uma mudança considerável de comportamento e visão de futuro. Ainda é notório o alheamento[ATT1]  dessa parcela do mercado – a que detém e comanda os meios – em relação à realidade das mulheres que, teoricamente, deveriam cuidar e fidelizar.

Público virtual e marcas não andam juntos, pois muitas dessas marcas ainda não desejam associar seus produtos a um padrão que não transmita aspiração ou seja convencional. O preconceito ainda supera (e muito) a visão empresarial, mesmo com os anseios de uma considerável parcela.

Em uma reunião para reformular seu site, por exemplo, certo executivo de uma famosa grife de moda feminina deixou bem claro às arquitetas da informação que contratou: “esse é o nosso público, e não há nenhum interesse em associá-lo a nada diferente disso”. Disse isso ao receber a ideia de diversificação das modelos apresentadas em fotos com suas peças de roupa.

Em alguns casos, há o medo de arriscar, do desconhecido. Já consolidadas, muitas grifes não se importam com a associação, mas têm receios de investir nesse novo mercado, repleto de particularidades. Há diferenças na estratégia de negócios, dizem os especialistas: desde a modelagem, comercialização e até mesmo no ainda restrito número de fornecedores.

Seja como for, é inegável pensar em mudanças no segmento – tanto por parte de quem fornece como para quem compra. As consumidoras desejam, de fato, reforçar positivamente marcas que aderiram à moda, mas, principalmente, precisam aceitar a si mesmas. Ainda há uma boa parcela desse público, frequentando ou não as redes sociais, que não aceita as próprias curvas, nem se orgulha delas.

Empresas do ramo, por sua vez, também precisam aceitar o crescimento inegável desse nicho e dar o braço a torcer para o enorme potencial que ele apresenta. Seja na internet ou fora dela, mais gente consumirá, divulgará os produtos, mais clientes satisfeitas, mais concorrência, preços mais competitivos – essa ainda é uma característica negativa, justamente pelas restrições impostas pelo mercado.

No e-commerce ou no mercado físico, mais importante que a abertura do segmento é a aceitação dele. Precisamos entender os desejos dessas mulheres e as suas histórias para que as experiências futuras sejam, finalmente, de plena satisfação, sem dores, mitos ou fantasmas.

Com reportagem de Juliana Damasceno

influência digital

A influência digital em discussão

agosto 4th, 2017 Posted by Comportamento 2 thoughts on “A influência digital em discussão”

Todo mundo gosta de ser bajulado, de receber atenção, ainda que não admita. As mídias sociais potencializaram a exposição das pessoas. Todos nos tornamos mídias potenciais. Surgiram os influenciadores digitais (já até falamos sobre a influência em várias mãos neste espaço), e o mercado, é claro, seguiu a tendência.

Audiências se formaram no entorno dessas pessoas, ainda que sem razões teoricamente aparentes ou até, em alguns casos, de qualidade discutível. As marcas e as empresas passaram a acompanhar esses bolsões de públicos nos blogs, Youtube, Instagram e Twitter, principalmente.

Marcas em ação

Como todas as novidades no universo do marketing, as estratégias de comunicação e relacionamento passaram a considerar os influenciadores como recurso fundamental de sucesso, seja para construção de marca e aproximação com as audiências de interesse, seja na mão mais pesada, tentando vender produtos e serviços.

O modelo foi ganhando força no mercado. Trabalhar com influenciadores digitais passou a ser quase uma obrigação para as companhias. De novo, aquele ‘efeito manada’ de que toda campanha precisa ter um influencer. Todo mundo, todos os departamentos de marketing, todas as marcas queriam (e querem) fazer parte desse contexto.

Aos trancos e barrancos, as coisas estão se assentando. O assédio de marcas e empresas criou intermediários no processo. Influenciadores passaram a ser agenciados. De um segmento pouco profissional, passamos a ver muita coisa mais organizada: orçamentos bem estabelecidos, tabelas de preços, contratos, relatórios de alcance, qualificação de audiência.

Hoje, jovens em número significativo encaram a influência digital até mesmo como uma possibilidade de profissão. E correm a publicar suas vidas e ideias em frente a computadores e celulares, transmitindo suas vidas em vídeo, ao vivo.

Certamente, isso vai aumentar. Veremos mais e mais gente tentando a sorte. E não se pode esperar que o usuário digital cesse esse desejo. Ele já entendeu que tem dispositivos e recursos fáceis e baratos nas mãos. É um caminho sem volta.

Nos últimos tempos, entretanto, o tema tem gerado muito debate. Por isso, também pensei em retomar essa discussão aqui no blog. Há uma explicação bastante simples para isso: além do ego de quem é, ou pretende ser, influenciador digital, tem dinheiro envolvido. E, em muitos casos, não é pouco não.

influência digital

O novo velho

Para tudo que se faça em comunicação e marketing sempre há críticas e processos de melhoria. Ainda restam muitas dúvidas, e a principal delas é: estamos (como mercado) agindo da melhor forma possível?

De certa forma, acho que caímos na armadilha de sempre. Aquela em que, sem clareza adequada de métricas novas, tentamos transferir os moldes de mensuração da mídia tradicional para o universo digital. E acabamos, mais uma vez, olhando somente para o volume, para a quantidade.

A efemeridade característica do digital também afeta a influência. Relevâncias de canais e pessoas vêm e vão. Consolidar-se como um influenciador com significado em um nicho ou um mercado tornou-se uma tarefa complexa. Afinal, como qualquer meio de comunicação sabe bem, manter a audiência é um troço difícil demais.

Na ânsia de atingir seus mercados, de usar esses indivíduos como intermediários no diálogo com as audiências, as marcas passaram a despejar conteúdos e produtos sobre influenciadores. Como retribuição, agradecimento ou apenas para ‘puxar o saco’ e ganhar algo a mais, viraram vitrine em muitos casos.

Claro que há influenciadores que se recusam a falar, que não gostam de ser abordados, de receber ou divulgar determinados produtos e serviços. Não podemos questionar a ética deles, mas tem quem faz bem feito e quem não sabe ou nem quer saber de fazer direitinho. De um lado e de outro: na ponta do influenciador e na ponta das agências e empresas.

Influência digital – Critérios e valor

Ao olharmos a questão de qualidade sobre o trabalho realizado com influenciadores digitais, vemos um cenário interessante. É preciso encontrar o caminho das pedras, separar o joio do trigo mesmo. Tanto no que diz respeito aos critérios utilizados para definir o influenciador como na seleção da agência que realiza esse tipo de intermediação entre a tua marca e a personalidade digital.

Talvez um dos maiores erros seja entender o processo como algo meramente comercial. A ação vira uma campanha, como qualquer outra campanha de mídia, mas usando como artifício o influenciador. Não é mídia convencional, é marketing de conteúdo. Você está escolhendo um porta-voz para a sua marca, e não um garoto-propaganda. É isso que mudou. Entenda!

Ah, gente! Vamos lá. Estamos na era do branded content, da crise do modelo de interrupção da publicidade. Temos de exercer a criatividade e fazer com que a marca leve algo de relevante. De preferência, em conjunto com o dono da audiência, e não impondo um modelo. Caso contrário, vai parecer aquele velho modelo que tanto criticamos.

Não adianta ser uma marca de construção civil e, para estar na moda e presente nesse universo digital, querer conversar com uma adolescente (e com sua audiência) que trata de dicas de beleza. O mínimo que se espera é bom senso.

É isso que a tua marca quer? Aliás, a pergunta que vale é: a que a tua marca, a tua empresa, o teu produto e o teu serviço devem se associar. Questione-se! Questione a tua agência sobre a importância que aquele canal, aquele influenciador específico – aquela influência digital, tem para os fãs e qual a aderência deste público para a tua marca.

Como em qualquer iniciativa de marketing e comunicação digital, tem investimento malfeito e bem feito. Basta saber escolher onde se quer colocar as moedas para obter o melhor retorno sobre investimento para a tua marca.

Vale ler “Ações com influenciadores digitais: tem que saber fazer direito”, por André Zimmermann.

A tua marca fala com idosos?

julho 31st, 2017 Posted by Comportamento, Todas as categorias 0 thoughts on “A tua marca fala com idosos?”

Todo mundo quer conquistar audiências jovens. Cativá-los para que deem sustentabilidade aos negócios no futuro, quando tiverem poder de compra. Mas quais são teus esforços de marketing e comunicação para os idosos? Se a tua empresa trabalha com esse público, precisa entender as mudanças. Se não, você deveria se preocupar.

Há uma grande transformação para acontecer. Ela vai afetar aspectos sociais, políticos e econômicos e, claro, a tua empresa, independentemente do teu segmento de atuação. O envelhecimento da população no mundo todo é um caminho sem volta.

Dados da Organização Mundial da Saúde, em levantamento realizado em 2014 e publicado na revista médica The Lancet, mostram que, em 2020, teremos mais pessoas de 60 anos que crianças com menos de 5 anos de idade. É a primeira vez na história que isso acontece. E vem mais… Em 2050, serão dois bilhões de pessoas acima dos 60 anos.

Essa alteração interfere na demografia e modifica a pirâmide etária. A base, formada por jovens, se estreita, enquanto o topo da pirâmide, constituída pelos idosos, acaba se alargando.

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Os dados são globais. E o Brasil segue esta mesma tendência. De acordo com o Censo de 2010, produzido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o total de brasileiros com mais de 65 vai quadruplicar até 2060, chegando a 58,4 milhões de pessoa. A expectativa média de vida do brasileiro também crescerá. Deve passar de 75 anos para 81 anos.A expectativa média de vida do brasileiro também crescerá. Atualmente ela está em 74,9 anos. Mas pode chegar a 81,2 até 2050.

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Mais idosos modificam a minha marca?

Ah! Vai mudar muita coisa. Mais do que viver mais, as pessoas tendem a viver melhor. A diminuição da fecundidade, a evolução da medicina, a melhoria da qualidade de vida e da alimentação contribuem para isso. Pode não parecer, mas o impacto disso é gigantesco.

Talvez o primeiro ponto a ser repensado no marketing e na comunicação é o quanto o contato da tua empresa vai acompanhar esse movimento. Falar com pessoas mais velhas tem outra dinâmica; a forma é fundamental. Considere, ainda, que todo mundo é mídia e produtor de conteúdo. O quanto da tua comunicação condiz com a realidade da população efetivamente idosa? A publicidade que você desenvolve reflete o idoso que pretende atingir?

Darei um exemplo simples, mas que nos faz repensar o tema. Vemos o envelhecimento aumentar. Correto? Por qual motivo, então, a maior parte dos prédios construídos, hoje em dia, ainda privilegia basicamente as crianças? Ah! Deve ser porque as construtoras são burras. Não! Nada disso. Elas sabem muito bem o que fazem, mas poderiam começar a pensar um pouco mais nas necessidades dos idosos.

Números que importam

Um estudo realizado, em outubro de 2016, pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e encomendado pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) aponta que 67% dos idosos são os únicos que tomam decisões sobre as compras que fazem; contudo, três em cada dez (34%) afirmam que sentem falta de produtos para a terceira idade.

Hoje, as pessoas com idade mais avançada são retratadas de forma bastante jovial e hiperativa. Ainda que haja uma grande evolução, temos de considerar o contexto. Talvez, para o retrato nacional, não seja uma verdade absoluta, mas as mudanças estão a pleno vapor, inclusive na adoção de tecnologia.

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Fonte: CNDL

 

Outra questão fundamental é o contexto, pois nossa realidade de mercado é bastante particular. Alguns dados ilustram bem isso e dão o tom da importância de considerar o envelhecimento um fator primordial na sua estratégia de comunicação.

  • Segundo a Serasa Experian, cerca de 1 milhão de idosos brasileiros encontra-se na faixa de alta renda, com uma vida luxuosa. Outros 10,8% praticamente sobrevivem em condições precárias.
  • O Instituto Locomotiva mostra que o número de brasileiros conectados na Internet cresceu mais de 100% nos últimos oito anos até 2016. Entre os internautas da terceira idade, o aumento foi de quase 1000%. O Brasil tem mais de mais de cinco milhões de idosos na Internet. A maioria dos conectados está na região Sudeste (60%), pertence às classes A e B e tem curso superior.
  • A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2013 mostrou que, da população brasileira ativa, os idosos representam 7,2%, com um aumento de 35,8% na última década.
  • Um levantamento feito pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) indica que 46% dos idosos tendem a aumentar as atividades de lazer, e o turismo é o que mais consome a renda nessa fase da vida.

Será preciso olhar com muita atenção, acompanhar de perto as movimentações desse perfil de consumidor e adaptar cada vez mais o diálogo e a forma de apresentar tua marca para essas audiências. Sem contar com o fato de que não temos a menor ideia de qual será o perfil dos nativos digitais quando forem mais velhos. Se eles já possuem outra lógica agora, imagine no futuro.

O cenário está posto e vai forçar uma guinada de reposicionamento das marcas. Isso vai passar pela estruturação das conversas, pela mudança das narrativas, pela revisão das mídias de impacto e, principalmente, pela leitura do comportamento. Mexa-se, pois o tempo vai passar rápido, na velocidade que você nem imagina.